Cientistas do Cern (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear)
anunciaram nesta quarta-feira terem descoberto uma nova partícula
subatômica que pode ser o tão procurado Bóson de Higgs, conhecido como a
'partícula de Deus' e considerado crucial para entender a formação do
Universo.
'Confirmo que uma partícula foi descoberta e é
consistente com a teoria do Bóson de Higgs', declarou John Womersley,
executivo-chefe do Conselho de Ciência e Tecnologia em Londres, que está
trabalhando com o Cern.
O resultado foi considerado preliminar,
mas um indicativo 'forte e sólido' da partícula. Ainda assim, são
necessárias mais pesquisas para comprovar que o que eles viram é de fato
a partícula de Higgs.
Os cientistas alegam ter encontrado uma
'curva' nos dados sobre as variações de massa das partículas geradas no
imenso acelerador de partículas Grande Colisor de Hádrons. Essa 'curva'
corresponde a uma partícula que pesa 125,3 gigaelectronvolts (Gev) -
cerca de 133 vezes mais pesada do que o próton existente no âmago de
cada átomo.
O que não se sabe é se a partícula descoberta é
realmente o Bóson de Higgs, uma variante ou uma partícula subatômica
completamente nova, que leve a reformulações das teorias sobre a
formação da matéria.
'É de fato uma nova partícula. Sabemos que
deve ser um bóson, e o bóson mais pesado já conhecido', disse o
porta-voz dos experimentos, Joe Incandela. 'As implicações são
significativas, e é justamente por isso que precisamos ser diligentes em
nossos estudos e checagens.'
Entenda o que são as pesquisas e sua importância:
O que é o Bóson de Higgs?
Segundo
teorias da Física que aguardam comprovação definitiva, Higgs é uma
partícula subatômica considerada uma das matérias-primas básicas da
criação do Universo.
Existe uma teoria quase completa sobre o
funcionamento do Universo, com todas as partículas que formam os átomos e
moléculas e toda a matéria que vemos, além de partículas mais exóticas.
Esse é o chamado Modelo Padrão.
Mas há um 'buraco' na teoria: ela
não explica como todas essas partículas obtiveram massa. A partícula de
Higgs, cuja teoria foi proposta inicialmente em 1964, é uma explicação
para tentar preencher esse vácuo.
Segundo o Modelo Padrão, o
Universo foi resfriado após o Big Bang, quando uma força invisível,
conhecida como Campo de Higgs, formou-se junto de partículas associadas,
os Bósons de Higgs, transferindo massa para outras partículas
fundamentais.
Por que a massa é importante?
A massa é simplesmente uma medida de quanto qualquer objeto - uma
partícula, uma molécula, um animal - contém em si mesmo. Se não fosse
pela massa, todas as partículas fundamentais que compõem os átomos e os
animais viajariam pelo cosmos na velocidade da luz, e o Universo como o
conhecemos não seria agrupado em matéria.
A teoria em questão
propõe que Campo de Higgs, permeando o Universo, permite que as
partículas obtenham massa. Esse processo pode ser ilustrado com a
resistência que um corpo encontra quando tenta nadar em uma piscina. O
Campo de Higgs permeia o Universo como a água enche uma piscina.
Como se sabe que o Higgs existe?
A
caça ao Higgs é uma das razões que levaram à construção do imenso
acelerador de partículas Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em
inglês), do Cern (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), na
Suíça. A primeira vez que se falou da partícula foi em 1964, quando seis
físicos, incluindo o escocês Peter Higgs, apresentaram uma explicação
teórica à propriedade da massa.
O Modelo Padrão é um manual de
instruções para saber como funciona o cosmos, que explica como as
diferentes partículas e forças interagem. Mas a teoria sempre deixou uma
lacuna - ao contrário de outras partículas fundamentais, o Higgs nunca
foi observado por experimentos.
Agora, os pesquisadores do Cern
dizem que descobriram uma partícula que pode ser o Bosón de Higgs, mas
destacam que mais pesquisas são necessárias para confirmar a descoberta.
Como os cientistas buscam o Bóson de Higgs?
Ironicamente,
o Modelo Padrão não prevê a existência de uma massa exata para o Higgs.
Aceleradores de partículas como o LHC são utilizados para pesquisar a
partícula em um intervalo de massas onde ela possa estar.
O LHC
esmaga dois feixes de prótons próximos à velocidade da luz, gerando uma
série de outras partículas. É possível que o Higgs nunca seja observado
diretamente, mas os cientistas esperam que ele exista momentaneamente
nessa 'sopa' de partículas. Se ele se comportar como os pesquisadores
esperam que ele se comporte, pode se decompor em novas partículas,
deixando um rastro de provas de sua existência.
Quais evidências os cientistas podem encontrar?
O
Bóson de Higgs é instável. Caso seja produzido a partir das bilhões de
colisões no LHC, o bóson rapidamente se transformará em partículas de
massa menor e mais estáveis. Serão essas partículas os indícios que os
físicos poderão usar para comprovar a existência do bóson, que
aparecerão como ligeiras variações - como a anunciada nesta quarta - em
gráficos usados pelos cientistas. Portanto, a confirmação se dará a
partir de uma certeza estatística.
E se o Bóson de Higgs não for encontrado?
Caso
se comprove que o Bóson de Higgs não existe, a teoria do Modelo Padrão
teria de ser reescrita. Isso poderia abrir caminho para novas linhas de
pesquisa, que podem se tornar revolucionárias na compreensão do
Universo, da mesma forma que uma lacuna nas teorias da Física acabou
levando ao desenvolvimento das teses da mecânica quântica, há um século.
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